top of page

Saudade Líquida e Memória Sonora: O Bar Mimosa e Seus Vinis Antigos

  • Foto do escritor: SC Noticias
    SC Noticias
  • 6 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura

Músicos, poetas e pensadores se encontravam ali, debatendo, criando e sonhando.

ree

Em Gramado, num congresso de engenharia, o passado esbarrava em mim, trazendo-me velhos amigos e as memórias dos dias que vivíamos como jovens estudantes. Ah, os tempos de faculdade! Aquelas conversas me levaram de volta ao coração de Salvador, precisamente ao Bar “Mimosa”, gerido pelo Santos, situado no bairro 2 de julho, perto do centro histórico. Um boteco que se tornou um santuário de memórias, encontros, histórias e arte.

ree

O dono, o próprio Santos, destoava da imagem típica baiana. Magro, fala mansa, estudante de direito da UFBA. Em seu bar, servia um delicioso feijão com carne e jabá picadinha que até hoje sinto o sabor, além de cervejas e cachaças curadas com folhas que iam desde o capim-santo até a canela. E como esquecer das batatas e jilós em conserva que ficavam em um frasco grande, onde todos metiam a colher sem cerimônia.


Era o lugar para celebrar quando o crédito estudantil caía em nossas contas. Aquela pequena fortuna, que era quase um salário mínimo, rapidamente se transformava em feijão, cerveja e dívida para com o Santos. Uma miscelânea de fregueses frequentava o local. De mendigos a vendedores de peixe, passando por estudantes como eu, José F. Ramalho Filho, José França (o Degodê), José Leone Novaes (o Zequinha), Goretti Rocha, Olivia Soares e Otto.

ree

No entanto, o Bar “Mimosa” não era apenas um estabelecimento comercial; era um centro cultural pulsante. Músicos, poetas e pensadores se encontravam ali, debatendo, criando e sonhando. Zelito Miranda, por exemplo, cujo forró se tornaria famoso mais tarde, afinava sua sanfona por lá. Além dele, vários compositores como o balconista do bar, o Beto Silva, autor da música “Prefixo de Verão” gravada pela Banda Mel que acabariam por ganhar destaque nas vozes de estrelas como Ivete Sangalo e Daniela Mercury, frequentavam o local, assim como futuros nomes reconhecidos da cultura nacional, como Margarete Menezes, Juca Ferreira, José Orlando, poeta e escritor, parceiro de Tom zé e muita gente do AfroPop como Lazzo, Gerônimo Santana e Mariene de Castro.


Hoje, mais de quatro décadas depois, voltei ao Bar “Mimosa”. A pequena porta ainda dá entrada ao passado, às paredes gastas e ao Santos, agora um senhor de idade, cujo sorriso ainda irradia a mesma simpatia. Ele nunca chegou a advogar, mas se tornou um guardião das memórias. A cerveja e o feijão já não fazem parte do cardápio. No entanto, em sua simplicidade, ele agora oferece discos de vinil antigos e garrafas raras de cachaça. Uma cápsula do tempo, onde o ritmo frenético do mundo lá fora não consegue entrar.


É incrível como lugares como o Bar do Santos têm o poder de nos reconectar com nossa essência. O mundo transforma-se, os tempos avançam, mas em certos cantos de Salvador, o coração e a alma permanecem os mesmos. E isso, caros leitores, é algo verdadeiramente especial.

Por A. Almeida (jornalista, pós-graduação em assessoria de imprensa, Economista, Advogado, Auditor)


Yorumlar


Receba nossas atualizações

Obrigado pelo envio!

  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Twitter Branco
bottom of page