Presidente do PT diz que Geraldo não tem a preferência de Jerônimo e Wagner
- SC Noticias
- 29 de nov. de 2023
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Éden Valadares rejeitou a ideia de que a ausência de Robinson como candidato possa diminuir a bancada do PT na Câmara Municipal de Salvador
Por Guilherme Reis, Mateus Soares e Paulo Roberto Sampaio
Em entrevista exclusiva ao jornal Tribuna da Bahia, o presidente estadual do PT, Éden Valadares, refutou a ideia de que o governador Jerônimo Rodrigues e o senador Jaques Wagner, ambos do PT, prefiram o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) como candidato do grupo para a Prefeitura de Salvador no próximo ano. Diante dos rumores sobre a possibilidade de duas candidaturas em 2024, em contraste com a união proposta para evitar a reeleição de Bruno Reis (União Brasil), o petista manifestou apoio ao nome do deputado estadual Robinson Almeida como uma "melhor possibilidade de unificar o grupo de Lula e Jerônimo em Salvador".
O petista também rejeitou a ideia de que a ausência de Robinson como candidato possa diminuir a bancada do PT na Câmara Municipal de Salvador, enfatizando a “maturidade e a responsabilidade” do PT como sigla do presidente da República e do governador da Bahia, destacando que a análise política deve se basear nos documentos e falas oficiais do partido.
Ele ressaltou o compromisso do PT em ampliar o número de vereadores em Salvador, independentemente da candidatura majoritária. No entanto, voltou a expressar o desejo de ter Robinson como candidato, delineando metas para a cidade, incluindo questões como transporte, trânsito, IPTU e justiça social. O foco, para o dirigente, é eleger mais vereadores, visando uma gestão que atenda às necessidades da população.
Confira a entrevista na íntegra:
Tribuna: Nesta semana surgiram especulações de que a base do governo já admite duas candidaturas a prefeito de Salvador. O que o PT acha dessa estratégia? É positiva? A pré-candidatura de Robinson vai até o fim?
Éden Valadares: A candidatura de Robinson, a candidatura do PT, não é um fim em si mesma. Nunca foi. Não é uma vitória para o PT ter uma candidatura por ter. Longe disso. A candidatura de Robinson é, ao nosso ver, a melhor possibilidade de unificar o grupo de Lula e Jerônimo em Salvador. Unificar e disputar para ganhar. Tal qual fizemos em 2022 com Jerônimo, uma surpresa para muitos, entendemos que um nome novo, mas com a unidade do grupo é muito competitivo. Sobretudo porque a turma de lá, do prefeito e seu ex-chefe, segue com salto alto e em clima de já ganhou. Então Robinson, o PT, a estrela, o 13, tem não apenas muita competitividade como condições de vencer a disputa. Com humildade, com os pés no chão, apresentando um programa com a cara do PT, da esquerda e do nosso grupo, mas dialogando com o povo, os setores produtivos, com quem investe, com os bairros e comunidades sobre uma outra Salvador possível e urgente.
Tribuna: O senhor tem a expectativa de que o governador Jerônimo Rodrigues anuncie a definição quanto a 2024 ainda neste ano?
Éden Valadares: Nós, o PT, temos a responsabilidade de ser o partido do Presidente da República e do Governador da Bahia. Portanto, para nós, o fundamental, a principalidade, a centralidade é reforçar os governos e a governabilidade de Lula e Jerônimo. Quem tem essa consciência, essa leitura e esse propósito, essa missão, não vai dar prazo nem para um, nem para outro. O tempo da política, por vezes, difere dos tempos da sociedade em geral. E os processos de gestação e definição podem levar mais ou menos tempo. Não só não posso dar prazo ou limite para essa escolha, como reafirmo nossa inteira e total confiança na condução do governador Jerônimo. Ele é o nosso principal líder hoje e ele dirá o rumo e os prazos para essa definição. Jerônimo é um quadro histórico do PT, forjado nas nossas lutas no movimento social e na gestão pública, com uma marca muito forte de diálogo e capacidade de ouvir, conversar, construir consensos. As cartas estão na mesa, todos os partidos tiveram a oportunidade e a liberdade de apresentar suas opiniões, suas reflexões políticas e entendemos que no tempo certo o governador vai chamar e encaminhar a solução. A pretensão do vice-governador Geraldinho, com quem tenho excelente relação, é mais do que legítima e nunca foi segredo. Mas, claro, torço e defende que a candidatura do PT por entender, a partir de uma análise concreta da realidade, que ela é mais competitiva.
Tribuna: Uma das coisas que se fala é que, sem Robinson candidato, a bancada do PT na Câmara corre o risco de diminuir. Isso também está em pauta?
Éden Valadares: É preciso afastar alguns tipos de argumentos que acabam povoando as análises políticas do que realmente o PT tem analisado, elaborado, coletivamente construído e apresentado. Não há um documento sequer do PT que afirme isso. Nem nenhuma fala minha, da presidenta municipal ou de Gleisi. Insisto: o PT tem a maturidade e a responsabilidade de ser o partido do Presidente e do Governador. Sabemos do papel que temo na Bahia e no Brasil. Pensar que a gente pensa em candidatura própria com o objetivo de eleger vereador é, desculpa o termo, não entender o tamanho, a dimensão e o caráter do PT. Mas, te respondendo, sim, nós vamos trabalhar para ampliar o número de vereadores do PT. Mas isso passa necessariamente por ter candidato? Não. Por exemplo, em 2022, a gente teve Lula vencendo as eleições no Brasil e Jerônimo na Bahia, mas isso significou aumento das minhas bancadas? Não. Temos o desafio da Federação, da concentração de candidaturas, da melhor tática fina eleitoral para as proporcionais. Então posso te dizer assim, o PT vai eleger mais vereadores em Salvador. Independente da candidatura majoritária. Mas queremos Robinson candidato para ganhar Salvador. Acabar com os aumentos da tarifa de ônibus, acabar com a indústria de multa no trânsito, cessar o aumento absurdo do IPTU, tornar Salvador novamente competitiva para quem quer investir e socialmente justa para todos e todas, os negros, as mulheres, os jovens, ter uma gestão municipal que acolha e cuide de gente, sobretudo dos que mais precisam.
Tribuna: É verdade que Wagner e Jerônimo preferem Geraldo Jr. como candidato do grupo?
Éden Valadares: Não.
Tribuna: Por falar nisso, qual a expectativa do partido sobre a eleição de prefeitos na Bahia?
Éden Valadares: 2016 e 2020 foram anos difíceis para o PT e para a esquerda como um todo. Golpe em Dilma, perseguição, condenação e prisão de Lula, uma grande articulação de setores do Ministério Público, da Justiça e da imprensa em perseguir e derrotar o PT. Então, claro que isso teve reflexo nas eleições. Mas superamos isso. Dilma foi inocentada, Lula provou sua inocência, vencemos com o voto popular na Bahia e no Brasil. Portanto, nosso prognóstico é bem melhor. Acabamos de filiar mais de dez novos prefeitos, estamos dialogando com outros tantos, não posso negar, nossa perspectiva é muito positiva. Mas, por tudo que falei antes, pela responsabilidade o PT e saber nosso papel histórico, não nos interessa o crescimento isolado do partido. Vamos trabalhar para a Federação com PCdoB e PV crescer, mas vamos sobretudo trabalhar para o grupo vencer. Nossa meta é fazer com que Lula e Jerônimo vençam as eleições em todas as cidades da Bahia. Onde o nome do PT for mais competitivo, com o 13. Onde outro aliado estiver em melhores condições, vamos apoiar com mesmo afinco e determinação.
Tribuna: E de vereadores?
Éden Valadares: Aqui tem o desafio de fazer eleições municipais com a Federação do PT, PCdoB e PV. Vai exigir de todos nós muita sensibilidade e firmeza. É preciso buscar uma única política para todas as cidades da Bahia. É um desafio e tanto. Cada município tem uma realidade, mas precisamos buscar critérios e posturas em nível estadual. Tenho dialogado com Ivanilson, com Galindo, nossas direções têm se reunido semanalmente para construir essa unidade. Pode ter problema aqui ou acolá, mas aprendi com o senador Jaques Wagner que, quando a gente faz política com coerência e desprendimento, a carroça anda e as melancias se ajeitam. Quando fui eleito presidente do PT Bahia, claro, por toda relação pessoal e política, a primeira pessoa que procurei foi Wagner. E perguntei como poderia ser 1% do articulador e liderança política que ele é para o PT, para a Bahia e o Brasil. Ele olhou para janela, pensou e me disse assim: fale a verdade, com elegância e educação, mas fale sempre a verdade. Mesmo que o interlocutor não queira ouvir ou discorde, fale a verdade. E essa lição tem me pautado sempre. Wagner é nosso timoneiro, como gosto de dizer, o maior político deste século na Bahia. E beber nessa fonte é um aprendizado, mas também um privilégio. Então, voltando, queremos eleger mais vereadores e vereadoras - no PT as vereadoras e candidatas competitivas receberão mais recurso eleitoral do que os homens - mas para alcançar isso é preciso que a Federação genuinamente construa um espaço de diálogo franco, fraterno e firme.
Tribuna: O cenário nacional, sobretudo a figura do presidente Lula, terão alguma influência no processo eleitoral nos municípios?
Éden Valadares: O Brasil, até dezembro passado, se viu capturado por uma lógica agressiva, violenta, de afirmação de valores primitivos, do uso da força, da imposição de preconceitos, de machismo, racismo, homofobia. De um tipo de gente que se sente incomodada pela mulher conquistar seu espaço na sociedade, que não suporta dividir um banco de universidade com um negro, com um filho da empregada doméstica. Uma turma pautada pelo negacionismo científico, contra as vacinas, pelo revisionismo histórico, defendendo a ditadura, ou pelo fundamentalismo religioso, como se os ensinamentos sagrados não fossem mais paz, tolerância, acolhimento, fraternidade. Então o Brasil está virando a página. Está reencontrando um país de todos, de inclusão, de justiça, de igualdade, mas também de crescimento econômico e prosperidade. E o principal responsável por essa mudança, por orquestrar essa transformação é o Presidente Lula. Negar que isso pode ter influência nas eleições municipais é difícil. Acredito que não vai presidir, no sentido de ser um plebiscito sobre o governo dele, mas que Lula influencia positivamente, disso não tenho dúvidas.
Tribuna: O tema da segurança pública terá influência nas eleições em algum nível?
Éden Valadares: É um tema sempre presente nas preocupações da sociedade, eu, você, todo mundo se preocupa com o tema. País, filhos, avós, trabalhadores, moradores dessa ou aquela comunidade, todo mundo tem esse tema como preocupação primordial. Mas como não cabe às municipalidades o dever constitucional principal, em outras palavras, como não é prefeito que cuida de polícia, segurança acaba pautando mais as eleições de governador e de presidente.
Tribuna: Na sua avaliação, quais os principais acertos e erros do presidente Lula nesse quase primeiro ano de governo?
Éden Valadares: O governo Lula está se esforçando em reconstruir e unir nosso país. É preciso resgatar o Brasil daquele padrão da disputa pela disputa, das famílias brigarem por dogmas, pelos grupos de amigos e familiares serem pautados por mentiras e fake news, como a Ferrari de ouro ou que o filho de Lula era dono da Friboi. Precisamos tirar o país desse abismo. Revalorizar a democracia e suas instituições. Recompor os espaços do contraditório sem violência, agressão, xingamento. Lula está buscando isso, internamente, reconstruindo nosso cinturão de proteção social, de cuidar dos mais pobres, mas também de estabilizar a economia, baixar os juros, aumentar o crédito e criar um ambiente propício para quem quer investir, abrir um negócio, gerar renda. Além, claro, do reposicionamento do papel do Brasil no cenário internacional, com credibilidade, estabilidade e previsibilidade. Defendendo a agenda da sustentabilidade, mas tanto da igualdade e multilateralismo. De equilíbrio na condução das grandes questões. Então eu vejo muitos, mas muitos acertos mesmo. E vejo desafios também. A relação com o Congresso Nacional, destravar o orçamento, apostar em uma nova matriz econômica não apenas baseada na metalurgia do ABC, combater as desigualdades regionais, ressignificar o papel da Ciência, Tecnologia e Inovação, são desafios fundamentais.
Tribuna: E de Jerônimo?
Éden Valadares: O melhor do governo Jerônimo é o próprio governador. Zero dúvida em afirmar isso. Jerônimo mantém o ritmo de entrega, o volume de obras e serviços públicos, incluindo um quê de diálogo, de conversa, de mediação com a sociedade baiana muito importante. Não ouço isso só dos movimentos sociais, não. Empresários me dizem o mesmo. Trabalha, trabalha, trabalha, mas dialoga, quer entender, tem humildade para conversar e quando se decide, entrega. Ele é um gestor que segue fazendo e entregando hospitais, policlínicas, estradas, escolas de tempo integral, aeroportos, mas que colocou a questão da fome na pauta sociedade. Então é um governador que faz muito em infraestrutura, mas tem a coragem de dizer que não podemos falar em felicidade plena enquanto uma parte dos baianos ainda enfrenta a mazela da fome. Isso é muito forte. Nós tivemos um ciclo com Wagner, da abertura democrática, do respeito às instituições, da participação e do controle social. Tivemos outro ciclo com Rui, do trabalho, da ponte, do asfalto, do concreto. E Jerônimo está desafiado e já desenhando o ciclo dele. Que busca o melhor de cada um, mas cria uma nova Bahia. Que vai fazer a FIOL, o Porto Sul, que trouxe a BYD, a questão da eólica, da fotovoltaica, mas também do hidrogênio verde, do século XXI. Alguém que realiza, mas projeta. Que faz e já planeja, já arruma o futuro. Não tenho dúvidas em dizer que Jerônimo fará um governo ainda melhor do que foram os de Wagner e Rui.
Tribuna: O PT dialogará e fará aliança com algum partido mais à direita no interior, como o PL?
Éden Valadares: Não sei em quantas cidades o PL está organizado. O PT é um partido muito grande, com muita vitalidade e muito enraizado. Agora em dezembro, após uma mobilização muito forte de plenárias territoriais e municipais, o PT deve chegar a quase 400 cidades da Bahia. Em muitos municípios a gente sabe que tem um PL que já foi governo, depois mudou, enfim, não quero criticar construção alheia. Mas quero dizer o seguinte: apoiar bolsonarista, está vedado. Não aceitamos filiar ninguém que votou em Bolsonaro ou em Neto. E podemos até estar em palanque de quem se arrependeu e hoje é Lula e Jerônimo. Mas isso deve ser resquício, exceção que justifica a regra. Nossa regra é ter candidato ou apoiar quem esteve conosco, comeu sal e poeira, quem ficou com Lula na baixa ou apoiou Jerônimo quando muitos desconfiavam da vitória. Jerônimo vai votar em quem votou em Jerônimo. O PT vai votar em quem votou no PT.
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