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"Foi uma derrota grande demais", avalia cientista político sobre Geraldo Júnior

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    SC Noticias
  • 14 de out. de 2024
  • 7 min de leitura

Eleições antecipam candidatura de ACM Neto em 2026, diz cientista político


Tribuna da Bahia, Salvador

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Foto: Divulgação


Por Henrique Brinco


O cientista político Joviniano Neto avaliou que era previsível a derrota do candidato Geraldo Júnior, do MDB, em Salvador. Mesmo com toda a base aliada do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em torno de sua candidatura, o vice-governador terminou a corrida eleitoral em terceiro lugar. "Eram muitas dificuldades. Além das cabeças próprias do Geraldo, ele se dividia em partes. Então, a expectativa dele era ter visibilidade, crescer, o MDB aparecer mais, criar uma base para a eleição federal, mas mesmo isso foi muito difícil agora. Foi uma derrota grande demais para o pessoal que lançou a candidatura dele", avaliou o especialista, em entrevista à Tribuna. Para o professor, o resultado traz pistas de como vai ser a composição da disputa ao Governo da Bahia em 2026. "Na Bahia, a candidatura de ACM Neto contra a eleição de Jerônimo. E, de algum modo, a força do PSD, que é o maior partido da base em termos de prefeitura. Com a força do PSD, que vai ter que pesar na composição da chapa. Se a chapa sair pela primeira vez, inusitadamente, com dois candidatos a senador do PT, Wagner e Rui, o PSD vai ter o mesmo direito natural a indicar vice", ressalta. Joviniano ainda faz uma análise sobre a eleição para vereadores e também opina sobre o motivo de as esquerdas nunca vencerem uma eleição na capital da Bahia.


Tribuna - Qual é a sua avaliação do resultado da eleição na Bahia?


Joviniano Neto - A situação na Bahia, salvo a derrota de Salvador, não mudou muito. O PSD ficou como o maior partido. O PP se dividiu para uma parte que apoia o governo formalmente. O Avante, com uma votação boa. O PP também. Então, a posição majoritária do Brasil nos partidos de centro-direita se mantém, mas o PT cresceu um pouco. A federação do PT, PCdoB e PV cresceu, certo? Em termos de base, em termos de quantidade de prefeituras, a base de Jerônimo até aumentou um pouco. Em termos de controle das grandes cidades, repetiu a mesma situação da eleição do governador. O União Brasil, o polo de oposição, que vem de uma antiga origem carlista, continua governando as maiores cidades da Bahia, com algumas exceções. Algumas exceções, mas a maioria das 20 grandes cidades, a maioria continuou no que chamaria centro-direita. Já a base continuou a mesma, com um aumento do número de prefeituras em relação à quantidade de prefeituras que apoiava Rui Costa, com a derrota da maioria da grande cidade e com uma derrota maior do que esperada em Salvador. Essa é a situação. 


Tribuna – Muitas expectativas foram frustradas...


Joviniano Neto - Houve algumas, algumas expectativas que se frustraram. Por exemplo, Ilhéus, onde havia uma grande expectativa da Dra. Adélia ganhar a eleição. Ilhéus não tem segundo turno. Havia alguma expectativa em Conquista do PT recuperar o município. Também se frustrou, ainda que esteja sub judice. Mas alguma outra coisa que ele se confirmou nessa eleição, como nas anteriores, nessa mais fortemente ocupada, é o percentual de reeleitos. A grande maioria dos prefeitos candidatos na Bahia e no Brasil foram reeleitos. Quem está no cargo tem uma vantagem imensa. Primeiro, ele sabe onde vai concorrer à eleição. Então, ele fica em campanha também, o primeiro mandato todo. Ele tem visibilidade o tempo inteiro. E qualquer que seja o prefeito, por pior que seja, e alguns são bem avaliados, por pior que seja, na campanha pra eleição, ele tem o que mostrar. 'Eu fiz isso, fiz isso, fiz isso, fiz isso'. E aí não vai dizer o que não fez. Mas ele está há quatro anos no mandato, quatro anos com visibilidade, quatro anos fazendo coisas que ele vai mostrar na campanha para a eleição. Então a maioria dos prefeitos do Brasil foram eleitos. Em Salvador, onde o PT está sozinho, nunca ganhou eleição, e há muitos anos que a coligação que o PT apoia não ganha eleição, se confirmou a vitória de Bruno, só que com a surpresa do Kleber Rosa, o candidato do PSOL, de uma alternativa à esquerda, ter mais votos do que uma tentativa de construir uma alternativa pelo centro.


Tribuna - Qual foi na sua avaliação a estratégia do grupo de colocar Geraldo?

Joviniano Neto - Eu acho que na cabeça do Geraldo, eu não posso estar na cabeça dele,  havia a possibilidade de adquirir visibilidade para ser candidato a deputado federal. Nas circunstâncias já era muito difícil, agora ficou mais difícil ainda, continuar como vice [em 2026]. Só que a votação que ele teve, se toda fosse votada para deputado federal,  não dá para eleger um deputado federal. Você pega a lista dos votos que os deputados federalmente tiveram. E claro que foram votos vindos de várias fontes. Então, havia uma estratégia de dar visibilidade a ele. Havia uma estratégia, sabendo que a vitória era muito difícil, senão impossível, pela tendência dos prefeitos serem reeleitos. E pela avaliação positiva que o prefeito tinha por isso ou por aquilo. E também pela demora. A escolha de Geraldo ocorreu em março. Enfrentando um candidato que fazia campanha há cinco anos. Bruno fez a campanha, você elegeu o primeiro mandato, ficou o mandato na vitrine, era o candidato declarado. 


Tribuna – Então Geraldo Jr. demorou para lançar a candidatura?


Joviniano Neto - Você arma contra um candidato desse, monta uma candidatura, algo artificial em relação às bases, em março? Estou falando de artificial porque, depois da demora da escolha do candidato, se escolheu um candidato que era difícil de ser aceito pelo setor mais à esquerda da base do governo. Isso é incrível. Eram muitas dificuldades. Além das cabeças próprias do Geraldo, ele se dividia em partes. Então, a expectativa dele era ter visibilidade, crescer, o MDB aparecer mais, criar uma base para a eleição federal, mas mesmo isso ficou muito difícil agora. Foi uma derrota grande demais para o pessoal que lançou a candidatura dele. Primeiro ele acreditou, talvez, na capilaridade. O pessoal que estava ao lado dele falava muito: 'Ele conhece a cidade, ele foi privilegiado com os vereadores, conhece os vereadores, os candidatos, a liderança locais, vai lá vendo locais'. Através desses vereadores, desses candidatos, dessas lideranças equiparadas, ele pode puxar a roda na área do pessoal centrista. Mas uma coisa é a capacidade de conseguir uma articulação grande quando você alcança a presidência da Câmara e com o apoio do prefeito, quando foi o que aconteceu. Outra coisa é essa capilaridade de alcançar toda a Salvador através de vereadores, quando a boa parte dos candidatos já estão com um candidato que eles acham que vai ser vitorioso, que estará pronto. Ele acreditava no conhecimento da cidade de Geraldo e na capilaridade, apesar de se articular com os vereadores. Isso foi uma ilusão.


Tribuna -E o que essas eleições na Bahia e no Brasil, na sua avaliação, podem antecipar em relação às eleições de 2026?


Joviniano Neto - Na Bahia, a candidatura de ACM Neto contra a eleição de Jerônimo. E, de algum modo, a força do PSD, que é o maior partido da base em termos de prefeitura. Com a força do PSD, que vai ter que pesar na composição da chapa. Se a chapa sair pela primeira vez, inusitadamente, com dois candidatos a senador do PT, Wagner e Rui, o PSD vai ter o mesmo direito natural a indicar vice. No caso, se isso aí sair, com os dois candidatos a senador do PT, vai ter um problema complicado em Angelo Coronel, que é senador e quer disputar a eleição. Então, vai ter um ano de 2026 com o candidato de oposição, que é ACM Neto, com o candidato à reeleição Jerônimo. Um dos candidatos a senador, sem dúvida, vai ser do PT. O PSDB deve ter nome, o PP se dividiu em dois, o Avante que é também, né? O Avante é o PP reconvertido. Estou simplificando. Porque o [Ronaldo] Carletto vai ficar com raiva se eu disser isso. O Avante é um PP que se aproximou da linha do governo, através de Rui. O Avante vai ter problema na combustão da chave, por causa do desejo de dois líderes do PT ser candidato e o [Angelo] Coronel querer ser candidato à reeleição [para o Senado]. Então, isso é o que está acontecendo. O Jerônimo, que a minha visão cresce, que o estilo dele é aberto. Para o governo do Estado, a coisa está clara. No Brasil, houve um enfraquecimento de Bolsonaro e um fortalecimento dos partidos do chamado Centrão, que foram os maiores beneficiários - inclusive, pelo sistema, pela força que o Congresso adquiriu na distribuição dos recursos, das emendas. Então, os partidos ditos de Centro, que são a maioria do Congresso, 60% do Congresso, vão condicionar as campanhas, embora não tenham muita condição de indicar a presidente. O candidato a presidente pelo PT é Lula, se estiver vivo e se tiver em boas condições. O candidato da direita será provavelmente o Tarcísio. É um candidato da direita, mas conseguirá apoiar pelo centro. E o centro, o tal Centro Democrático, da qual o Simone Tebet seria um exemplo, esse tal Centro Democrático vai ficar de novo procurando uma terceira via sem achar.


Tribuna -A Câmara Municipal de Salvador teve mais ou menos uns 39% de inovação. Na sua avaliação teve alguma surpresa ou foi dentro do esperado?


Joviniano Neto - Não, teve alguns. A surpresa, que não é surpresa, é um  radialista popular [Jorge Araújo] da versão do povo, na velha tradição de que mata a cobra e mostra o pau. O presidente da Câmara, como esperava que fosse eleito, foi bem eleito. Alguns candidatos que não se elegeram podem ter provocado alguma surpresa, mas não achei uma grande surpresa, não. Se a candidatura da base do Jerônimo fosse a mais cara do PT, o PT poderia ter eleito mais vereador na coligação dele. O PT elegeu, o PCdoB e o PV um, certo? E esse do PV [André Fraga] não é tão oposicionista assim. O União Brasil tem votação, uma quantidade boa de vereadores, é de se esperar.


Tribuna -  Por que o senhor acha que os candidatos à prefeitura de esquerda têm essa dificuldade de, talvez, dialogar com o povo de Salvador, mais da periferia?


Joviniano Neto - Na Bahia e em Salvador também, nós temos uma situação engraçada. Lula ganha todas as eleições na Bahia e em Salvador, mesmo quando perdeu a eleição nacional. Em compensação, o PT nunca elegeu um prefeito de Salvador. O que é que explica o eleitorado de Salvador? É um eleitorado não organizado partidariamente. Um pouco organização partidária, e sindical. Ele tem uma quantidade grande de eleitores, que a gente chamava antigamente de eleitores “dependentes”, que se decidem a partir de outros critérios, de família, vizinhança, igreja. Qual o grau de filiação a partido ou a sindicato em Salvador? Uma população grande, mas com grau de organização partidária e sindical ou de homens nessa linha de esquerda, não é muito grande, não. A maior parte das pessoas são isoladas ou ligadas a empresas. Ninguém é isolado. A pessoa vota sozinha, mas não vota isolado. Ele vota dentro de uma rede. A rede é o quê? Família, vizinhança, igreja, amigos, grupo do qual a pessoa é fã. Quantos são filiados a partido? Quantos são filiados a sindicatos? 

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